21 Set PRIMEIRA INFÂNCIA: UM FABULÁRIO
“Primeira Infância: Um Fabulário” foi, em primeiro lugar, um desejo de contar a história da Terceira Pessoa, estrutura que fundámos em 2012 e que tem desenvolvido um trabalho de criação e aproximação do público às linguagens contemporâneas.
Ao longo destes três anos já participaram diretamente nos projetos da Terceira Pessoa mais de 150 pessoas de vários locais de Portugal. A criação dos vários objetos artísticos (espetáculos, performances, vídeos, exposições, edições de livros…) tem sido caraterizada por um próximo e forte envolvimento dos públicos nas dinâmicas criativas da associação. Essa proximidade representa uma abertura constante da equipa criativa às várias sensibilidades que vão habitando os vários projetos e os objetos vão revelando fortemente esta ligação.
O “teatro” enquanto espaço de manifestação estética e política dos seus intervenientes e a multidisciplinaridade resultante do envolvimento de criadores provenientes de diferentes disciplinas artísticas, têm sido características do trabalho que tem sido desenvolvido até à data.
Gostamos de pensar na Terceira Pessoa como uma pessoa, como um organismo vivo, que vive e faz viver, que pensa e faz pensar… uma pessoa em potência, em constante mutação, redefinição e experimentação, nunca se concluindo.
“Primeira Infância: Um Fabulário” inscreve os primeiros anos da Terceira Pessoa, ao mesmo tempo que inscreve os primeiros anos da Maria Rita, dialogando com a história do universo, numa dialética que circula entre o pessoal e o coletivo, entre o íntimo e o público, resultando também num exercício de reflexão sobre os modos de escrita da história, dos seus modos de ficção.
A Maria Rita Moura é uma criança de 9 anos, que começou a fazer espetáculos aos 6 anos com a Terceira Pessoa e, a partir daí, nunca mais deixou de estar envolvida em processos criativos. Tendo atravessado a primeira infância da Terceira Pessoa, convidámos a Maria para fazer este espetáculo que também é um fabulário, que também é um delírio, que também é um poema. Juntos criámos um espetáculo que celebrasse os primeiros anos de vida, os nossos, os da Maria, os da Terceira Pessoa, os do universo. E encontrámos uma celebração da criação.
Este espetáculo é uma celebração da vida e das suas múltiplas possibilidades, um caleidoscópio onde as coisas tombam umas nas outras de forma interminável e tudo se torna objeto de devoração (vulgo, desejo): o horizonte engole o mar, o mar engole a montanha, a montanha engole a planície, a planície engole a casa, a casa engole o jardim, o jardim engole o cão, o cão engole a lagarta, a lagarta engole a relva, a relva engole a flor, a flor engole a terra, a terra engole a água, a água engole a Maria… Toda esta sequência podia continuar infinitamente não fossem, por vezes, existir momentos que se tornam pequenos “highlights” deste fluxo.
Esta imagem é um desses momentos, o primeiro em que recebemos a Maria em nossa casa e que tentámos guardar numa polaroid, daquelas à antiga. Outro, esperamos, será o espetáculo que estreamos no dia 25 de Setembro no Cine-Teatro Avenida em Castelo Branco.
A casa vai-se tecendo com o bater do coração e as portas abrem-se agora para vos acolher. Não percam a oportunidade de a continuarem a tecer connosco. A fábula já começou…
Ana Gil & Nuno Leão
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